7.9.14

A falta na presença


A gente tem essa ingenuidade (ou seria ilusão?) de achar que a gente não pode sofrer. Não sei que medo incondicional é esse que a gente tem de demonstrar nossas fraquezas. Não sei o que nos trouxe até esse ponto, mas sei que não vai nos levar muito além disso. Consequências de quem não tem paciência pra nada nessa vida. Nadica mesmo.

Se um vídeo tem três minutos, assisto 20 segundos e já tá de bom tamanho. Se vou atravessar a rua, não tenho tempo de esperar o semáforo ficar verde para o pedestre. Se aquela amiga não gosta do mesmo tipo de música que eu, vou tratando logo de desqualificá-la para tal cargo. Uma intolerância com o outro que a cada dia se acentua e me irrita num nível de gigantes proporções.

E não pense que para por aí não! A situação é tal que a gente nem se suporta mais. Sem condições de escutar o que o outro tem a dizer, quando a gente não dá atenção nem para o que tá lá dentro, gritando para sair, incomodando como pedra dentro do sapato. A gente asfixia, empurra, bota uma bigorna em cima pra segurar tudo por ali mesmo.

A gente evita dizer que sentiu as palavras de um certo alguém importante na nossa vida, mesmo quando ela bateu fundo. A gente finge que não liga a falta de palavra desse mesmo alguém. A gente termina um relacionamento de anos e quer mostrar pro outro, que nos conhece tão bem, que estamos no auge da nossa juventude e boa forma.

A gente ataca primeiro na tentativa de se defender. A gente pensa que engana o outro quando nem mesmo conseguimos acreditar nas mentiras que queremos. Nos tornamos intoleráveis com os nossos próprios sentimentos e queremos que os outros nos aceitem como nem nós mesmos conseguimos nos aceitar.

E vamos buscando desculpas para o nosso não olhar pra dentro. E vamos querendo encontrar no outro aquilo que não estamos dispostos a oferecer. Saímos à procura de algo que está dentro. Sentimos a nossa falta na própria presença, porque ela é desnorteadora demais para ser encarada de peito aberto e pulsante.

Todo esse caos interno não vale de nada no final da noite. Essa busca incessante por disfarçar quem somos não valem as lágrimas escondidas na fronha do travesseiro. É triste chegar em casa e notar quem não temos a quem culpar além de nós mesmo. É uma droga não poder contar com os próprios pensamentos ocultos.

"A pior mentira é aquela que contamos para nós mesmos."

3 comentários:

  1. Vivemos com tanta urgência e tanto dentro da nossa bolha que nem aproveitamos as oportunidades fantásticas que a vida nos dá!

    r: O cão é mesmo o animal que mais gosto. São tão meigos e tão fiéis, é bonito de se ver.
    Se não apontar logo do que me lembrei depois é uma trabalheira para me conseguir lembrar, assim ando sempre prevenida ahahah

    Muito obrigada! Beijinhos*

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  2. Boa tarde querida Amanda... bem como coloquei na minha poesia ficou teu texto..
    tenho buscado entender o que esta se passando nos dias de hj com as pessoas e comigo mesmo.. e tá bem dificil chegar a uma resposta..
    estamos desconectados com nós mesmos.. temos que voltar para dentro de nós e encontrar o fio desencapado e isolar o mesmo..
    a vida é muito mais que sofrer seja por amor ou caminhos a se buscar.. temos que ver tudo com os olhos da alma e não com os fisicos que devem ser bem ceguinhos.. beijos e até sempre

    Lapidando Versos

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  3. De uma gotinha no oceano para outra: o mundo, minha querida, está mergulhado em egoísmo. Cada palavra que disseste, e que reflete uma pequena parte do que de fato acontece, cheira a egoísmo, cheira a esse veneno adocicado de que os serem humanos se embebedam e passam os dias embebedados. As pessoas estão bêbadas de si mesmas, impacientes porque as outras não vão direto ao que interessa para elas, revoltadas porque não é todo mundo que se curva aos seus caprichos. Só uma coisa diferencia está sendo envenenado, embebedado, mas não quer ser: é o travesseiro. O travesseiro de quem se recusa a viver dessa forma se molha, pela ansiedade de encontrar outras pessoas que também se importem! Mas o travesseiro de quem já não se importa não se molha, e ela dorme sossegadamente, apesar de todas as atrocidades egocêntricas com que encheu o seu dia. Belíssimo texto. Belíssimo. Beijossssssssss

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