5.11.18

Lynx lynx


Da família Felicidae, felina. Um animago, diriam no mundo bruxo
Ainda que preserve a forma humana, na maior parte do tempo
ostenta olhos de lince
certeiros, profundos, penetrantes
Às vezes pesados, às vezes sorrindo
Uma benção e uma maldição: ela transforma em prece
É preciso enxergar mais longe, aquilo que ninguém se atreveria

As vibrissas captam o perigo, profetizam o ambiente
Sensibilidade que sobe pela calda curta e deslisa até as pontudas orelhas
Tradução de sutileza e elegância
Tudo ao seu redor se curva
a majestade
de quem eleva o status de rainha a décima potência
sem juba sem coroa sem domesticação
Assim sendo, nem leoa e nem gata
Não ataca por vaidade e nem expõe suas estratégias de caça

Poucos tem o privilégio de chegar perto e vê-la por inteiro
Ela é rara
mas nada que dela se aproxima lhe é estranho, seja pedra, planta, bicho ou humano
Maria Bethânia logo adiantou
que ela crê no que vem da escuridão

Coleciona leves passos sobre a grama molhada, flutua na neve
Não se engane com a sua descrição
com visão de raio x, ela-animal não se afoba
monitora a presa até estar perto o suficiente prum bote rápido e indolor
e volta vitoriosa para o reduto na noite adentro
Saciada e satisfeita
Pronta para voltar ao corpo bípede

E, assim como em sua vida selvagem,
usar sua ternura para equilibrar o ecossistema que a cerca
Um dos seres mais complexos e incríveis que já habitou a terra em seus bilhões de anos
A natureza, o universo
levam todo o crédito pela criação
(e agradeço por ter descoberto que nada nesta vida é coincidência)

O seu legado,
a sua dádiva,
é guiar.
E quem consegue decifrar o enigma escondido em sua íris
pode encontrar o divino em si mesmo.

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