7.11.18

Do amor real


- Eu não sei, mas estou com várias ideias. Vou sair de casa, não sei pra onde, mas vou. Talvez morar em outro bairro, talvez um intercâmbio em outro país e talvez nem voltar. Estou aberta às opções.

- Eu passei em uma universidade de Portugal quando era mais nova, mas não fui por conta do meu namorado na época, que hoje é o meu marido. Não sabia se ele ia me esperar voltar...

- Amo meu namorado e isso não me impede de alçar coisas maiores, que podem ser decisivas na minha vida. Estou em um momento de sentir a liberdade e sentir que posso fazer tudo o que quero, pela primeira vez. Passei tanto tempo pensando no que os outros queriam... agora é a minha vez.

- Mas você acha isso porque ele não deve ser AQUELA pessoa, sabe? Se fosse, você não teria essa vontade. 

Foi a conversa que aconteceu em uma noite qualquer, de uma semana qualquer, em um curso de uma faculdade qualquer, entre três amigas. Pedi as contas de quantas vezes já participei de diálogos assim. Isso me incomodou, assim como quando se estabelece, quase sempre, que as mulheres devem abrir mão de suas vidas em nome de um amor, homem, que seja louco, sofrido, destruidor de sonhos. 

Ah, o amor romântico...

É tão mais fácil pôr a culpa no outro sobre a nossa falta de coragem de viver nossos sonhos. É tão cômodo viver em função de alguém pra não assumir sua própria covardia. E depois jogar na cara do par tudo o que você fez por ele. Como pode ele não retribuir, se passei a minha vida toda ao seu dispor? Sempre fazendo todos os seus gostos, sendo vítima de mim mesma e agora te condeno por todos os abusos que eu me cometi.

Por que a gente tem essa mania feia de misturar amor com apego, com posse, com domínio? Osho defende que pouquíssimas pessoas chegam a amar realmente, pois é um estágio tão sublime que, sabendo amar, não se quer saber de outra coisa. Mas o amar defendido pelo guru é o da compaixão, da liberdade. Algo que, infelizmente, vejo que estamos bem longe de alcançar nesse momento.

Não estou dizendo aqui que deve cada um ir prum lado e acabou-se, que não se podem fazer planos juntos ou repensar algo que tinha sido por você colocado como meta da sua vida. Mudamos de ideia a todo instante e alguém que entra em nossa vida pode sim alterar o itinerário da viagem. O meu ponto é: até onde a escolha é sua? Qual o percentual de você em suas decisões?

Porque, olha, dar a direção do seu destino pra outrem é 100% de chance de dar em merda. Em alguma hora, a bomba estoura, porque não é o suficiente ser passageiro. E tem gente que só passa, toda a vida, nunca conduz. Querer realizar sonhos é natural, todo ser humano tem expectativas. E tudo bem se a sua é só sua. Mudar de cidade, fazer uma viagem internacional ou querer passar uma semana sem ver o namorado não quer dizer que você o ame menos. Talvez você até o ame mais, a ponto de ter abertura pra voar sem medo.

Talvez você "só" se ame. E assim, poderá amar mais as outras pessoas.

O amor próprio se tornou mercadoria rara numa sociedade em que somos o tempo todo instigados a buscar por todos os lados o que só brota de dentro. E assim, vamos jogando nossas frustrações, desejos, insatisfações e prazeres superficiais nas outras pessoas. E isso não é amor. Deve ser apego mas não tenho certeza ainda. Só sei que coisa boa não é. O nascedouro da compaixão está dentro de cada um. Só se amando é possível dar e receber o amor real de outra pessoa.

As coisas mais difíceis pra nós são as simples e o amor é tão que não exige sacrifícios. Na tentativa de racionalizar tudo, a gente acaba não sentindo nada e tem coisa que só dá pra decodificar com o coração mesmo. É mais fácil aceitar, inclusive o medo e a covardia de se amar. É o primeiro passo pra toda a revolução.

E sobre a pessoa certa, só existe uma e é você: que tem a dádiva de se conhecer e deixar a sua vida fluir pelo caminho mais incrível e transformador possível - inclusive pra contar com alguém que te ame tanto a ponto de você ser livre com você mesmo. Não deve haver nada mais certo do que isso. Quando a gente entende isso, se liberta. E assim, vira propagador do amor real.

P.S. E também tá tudo certo em querer ficar. Que fique por você. A decisão é só e somente de cada um: sua! Tomar posse desse poder é a maior prova de amor real que você pode se dar e ao universo, também.

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