31.10.18

Torre de Marselha

Ela tem o poder da desestrutura
desmonta, desfaz
O chão se abre
O corpo em queda-livre
As paredes balançam e os olhos percebem o que não tem mais lugar,
O que era fixo já não é - nunca foi, na verdade
A ilusão é fruto do medo

A cratera se abre
pra que lado eu vou não sei, só não posso voltar
Um segundo que permeia a eternidade
Entre o espaço e a velocidade, o tombo
Tudo balança, roda, gira
Parece parado no instante, mas está uma oitava acima
Situações que se repetem: o que eu ainda posso aprender com esse espelho trincado?

A escada já não tem degraus e eu desliso em direção ao escuro
Já não há bússola nem estrela-guia, só a fé em algo maior
dentro de mim
A pressa se foi, estou calibrando a minha intuição
enquanto tudo cai ao meu redor.
Mas do chão eu não passo

Estou no topo da torre
que eu construí com tanto apego e agora preciso deixar ir
O caminho está interditado pela estrutura, me encontro em obras
Desestrutura
Aberta para o que pode ser construído e transmutar
O que ficar de bonito
e o que ficar de escombro e demolição:
a minha essência
e essa nunca vai me deixar em desamparo.

- estou pronta para desabar no desconhecido.

"Alzira bebendo vodka defronte da Torre Malakoff
Descobre que o chão do Recife afunda um milímetro a cada gole
Alzira na Rua do Hospício, no meio do asfalto, fez um jardim
Em que paraíso distante, Alzira, ela espera por mim?"
Alzira e a torre, Lenine.

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