9.10.18

Minha voz é uma flor


Por muito tempo fui muda.

Carreguei sementes que nunca germinaram porque não viram a luz do sol ou recebem uma gota de água sequer. Eu as engolia com tanta ferocidade, achando estar matando uma fome que só aumentava pela excesso de mortes e escassez dos frutos. A pilha de plantas que nunca chegaram a ser só aumentava e eu me enterrava entre as palavras que deixaram de ser ditas e viraram bolas e mais bolas de dor e choro na garganta.

Não foi da noite pro dia que recuperei meu jardim. Foi um trabalho árduo de recuperação da terra, renovação da plantação e virar broto. Leva um tempo até tudo isso se desenvolver, sabia? Nenhum despertar verdadeiro acontece de forma rápida, porque é difícil pra caralho. É uma dor de querer rasgar a pele e sair do corpo tirar de baixo do tapete toda a sujeira acumulada por tanto tempo, até pelo apego que a gente nutre pelo lixo. Separar o que é preciso ser esquecido do que precisa ser afirmado e do que precisa ser reafirmado com urgência. Do que precisa ser perdoado. Abraçar as coisas mais feias que se tem dentro e encontrar alguma beleza nisso.

Um processo que, sem medo de errar, digo que durará o resto da minha vida. Mas hoje eu conquistei a coragem e a dignidade de não deixar que o lixo se acumule a ponto de tapar as minhas vias aéreas, de fechar minha garganta, de dar nó de marinheiro nas minhas cordas vocais. Alguns grãos ainda morrem no meu jardim, ainda não sou jardineira, mas estou aprendendo. Me permitindo tentar cuidar desse meu pedaço de terra. Você me entende?

Eu brotei!
As palavras às vezes nascem tortas, com muita força ou sem impulso o suficiente
às vezes menos bonitas ou lógicas do que pareciam na minha cabeça
mas elas saem! São expressivas, frágeis, fortes
E minhas. Minha voz.
Minha semente mais bela virou flor.

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