5.5.18

Queda livre


Meus ossos doem como se tivessem sido esmagados pelos pesos da minha culpa.
É uma dor fria, que incomoda no mínimo movimento
É como se meus ossos resistissem em mudar da posição que eu já não pertenço mais
O corpo já não alcança a velocidade da mente, que trabalha em regime 24/7
Não descansa não cessa não para
Não sei se isso ainda sou eu. Não sei se ainda tenho algum controle
Sobre as pernas pesadas
Sobre o suspiro profundo que machuca os ossos da minha costela

Então eu chorei soluçadamente
Eu chorei quando olhei pros lados e me vi sozinha. Eu sempre estive
Eu preciso estar
Mas não diminui o desamparo
Eu chorei meu desespero, eu solucei para aceitar
E nem mesmo o sono consegue me dar a paz que eu tanto imploro e que sinto estar mais distante a cada piscar dos olhos
Ontem à noite eu senti um medo fodido do escuro que eu nunca tive
Eu não quis dormir com tudo apagado, eu não conseguia
Eu nunca tinha me deparado com o escuro em mim
Me fez querer correr. Ainda faz
Mas eu estou aqui, talvez por falta de opção, de coragem
Ou justo pelo excesso de
Eu acendi uma vela
Se ainda ocupo esse espaço, é porque vou transformar em força
A dor o medo o escuro os ossos os pesos as culpas
E enxergar a beleza que também pulsa na noite dentro de mim

Parece que o meu sonho infinito virou realidade
Eu cai de um prédio bambo com mais andares do que eu possa contar

Eu estou em queda livre
Eu senti cada osso se partindo com o encontro ao chão, sendo espatifado. Eu ouvi o choque, o estalido. 
Eu percebi que não havia mais ligações entre as minhas articulações
Uma dor que poderia ter me feito enlouquecer. Eu achei que ia
Mas não
Cada pedaço encontrou o seu lugar e se encaixou com peças de uma engrenagem
Que foi desmontada para que cada parte finalmente ocupasse onde devia
O que também dói, mas agora eu entendo
Eu vejo eu sinto
Que eu morri, mas eu nasci também
E vou me levantar inteira, como a premonição do meu delírio noturno
Ninguém vai perceber. Eu vou parecer exatamente igual aos olhos de outrem

Mas eu vou saber e sentir e respirar aliviada
Porque agora eu encontrei
Eu encontrei a mesma que eu nunca fui
Que eu não permitir ser. Agora sou
agora vou ser, estou me aproximando de ser
Eu sempre fui
Eu.
E eu 
sobrevivo.

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