29.5.18

Eu acho que finalmente entendi os finais


Não me interessam os aplicativos que resumem todos os livros do mundo em uma leitura de 12 minutos.
O resumo não me dará os detalhes, o gelado nas mãos, a ansiedade gostosa de torcer por uma personagem e sofrer junto com um ela. Não me permite olhar pelas minhas perspectivas e nem que eu marque com post-its as frases que fizeram meu coração parar de bater por um milésimo de segundo.


Não me interessa ver o primeiro e o último capítulo de uma série.
É o que acontece no decorrer de uma história que me faz vibrar, chorar, me encantar com o enredo. Talvez por isso eu até prefira os seriados aos filmes, pois eles conseguem dar mais intimidade e profundidade aos contos narrados. Os episódios vem aos poucos e me deixam querendo saber sempre um pouquinho mais. Me deixam querendo prolongar o meio. 

Não me interessa o final do texto que escrevo.
Porque quando o começo, eu já sei como se dará seu fim. Mas sei também que posso escolher um bilhão de formas diferentes de chegar até ele. As palavras que me fazem chegar ao êxtase literário, que me desmontam e remontam, que muitas vezes dizem o que a boca não consegue. Um momento tão solitário e íntimo, de uma preciosidade indescritível, principalmente ao sentir o mesmo ao ler os escritos algum tempo depois. Ou pelo menos de respeitar e acolher o que deu sentido.

Não me interessa escutar só parte de uma música.
Se é na metade do canto que está o ponto alto, o desenvolvimento, a hora em que me conecto completamente com o intérprete e sou um pouco ele, também. Quando a canção encaixa, relaxa e traz paz. É nesse instante que eu quero ficar.


Não me interessam os finais.
De um jeito ou de outro, eles vêm. No fundo, cada um sabe o seu: o cenário, os personagens, as falas, as faces e caretas, os gestos e as pausas. Cansei da ânsia de querer adianta-lo, porque ele chega no momento em que chega e quanto a isso não há discussões. Não há birras, não há estratégias e não há surpresas. Porque ao chegar no final, a gente simplesmente sabe. E eu não estou preparada para saber. E nem para o final. Por enquanto, fico com os meios.

Me interessam os sustos, as opções, o meio da trilha. A liberdade, o improviso, a transformação. O direito de ser e ele tá bem na intermediação. Igual a mim. Eu to na metade. Eu sai do começo e não quero chegar ao fim. Só quero continuar a trilhar o caminho, colecionando os detalhes, as curas, as redescobertas, as flores, as fases da lua e o calor do sol. E sei que quando eu menos esperar o fim se instala. O fim que, outrora, eu quis muito apressar. Mas ele só chega quando sou capaz de fechar os olhos sem a culpa do escuro.

Por enquanto, só quero apreciar a vista do pulo que me lancei
E sentir o finito frio na barriga
De quem vai aproveitar cada suspiro.

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