29.1.17

Conjugação


Ele, a terceira pessoa do singular. O jeitinho é de quem só pisa forte num terreno depois de tá muito confiante, sabe? A certeza de saber onde põe os pés fica bem evidente na maneira como ele observa o espaço e as pessoas intimamente, mesmo quando busca a atenção pra si, numa tentativa  de esconder um sentimento tímido, talvez, por trás da fala entonada e firme.

Se tem algo lindo que eu vejo nele é a força do olhar, que nunca pisca ou desvia. Esse moço tem coisa forte dentro do peito. Dá pra perceber pelo modo em que se debruça sobre os livros com paixão. Quem gosta de ler sente o infinito no coração - vi uma frase que dizia mais ou menos isso. Metódico e reservado ele é. Arrisco dizer que solitário, no sentido de quem sabe desfrutar da própria companhia. Afinal, não é preciso fingir sozinho.

Ele ama pizza de calabresa e eu amo a forma como ele se aninha no meu cabelo nas nossos cochilos. O ascendente em capricórnio não o deixa negar o gosto por ser o melhor em tudo o que se dispõe a fazer, muito embora não leve a sério os ditos signos. Garante que a razão o move, mas já vi a emoção ganhar o cabo de guerra contra o entendimento facilmente. São poucas pessoas que conseguem chegar no que de bom esse rapaz esconde, sinto. E me gabo por ter chegado em um lugar dele que não conseguiria descrever, ainda que soubesse todas as palavras da língua portuguesa. Eu, primeira pessoa do singular.

Eu que, ao contrário dele, custo a ser o centro em uma roda de conversas. Mas gosto de cartas na mesa, sentimentos expostos. Que, de uma forma ou de outra, entrego o jogo antes dos 10 minutos iniciais. Coisa de gente ansiosa.  Ele é mais mistério que eu - o que, confesso, fico atiçada a descobri-lo. E, sendo assim, muito sensível, desvendo enigmas em todos os seus atos. O cafuné na cabeça, o estalinho, o dormir cheirando meus cachos, o abraço apertado, o olhar, deitados na cama num fim de tarde.

O que eu gosto mesmo, além de tardes a fio vendo séries, é dele e do jeito que ele me olha. De como a vida mostra que tudo o que acontece pode ser ainda melhor do que a gente esperava. Depois de tantos e quantos, descobri que a calmaria me traz paz e o silêncio também acolhe. E se você consegue ficar confortável com o sossego a dois, talvez seja mesmo pra sempre - ainda que não em tempo. Aprendi com ele.

Ao passar do tempo, chegamos em um lugar que não mais me pertence, tampouco a ele. O lugar-comum é de duas pessoas, que mostram, ali, afetos e afeições nutridos um pelo outro. Dois que viram apenas um. Não por necessidade ou obrigação. É conforto, impulso, cheiro de casa. Conexão. Do singular nos tornamos plural: nós.

E o encontro determinou a nossa conjugação.
Nós somos laço.

5 comentários:

  1. Ótimo texto. Desejo que esta conjugação, em breve incluam os pequenos eles ou elas kkkkk. 3 está bom ne? Abraços.

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  2. Great Post!

    lovely Greetings, lots of Hugs <3

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  3. Oi, Amanda!
    Que lindo saber que voltou a postar aqui! Amei. <3
    Seu texto é tão sincero e encantador. Fiquei imaginando algumas das situações colocadas bem brevemente e pareceu tão real. Eu tenho ascendente em caprica, então entendi bem Ele. Hehe
    Adorei.
    Abraço!

    "Palavras ao Vento..."
    www.leandro-de-lira.blogspot.com

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  4. São quase opostos, mas não que isso seja ruim.
    Um complementa o outro.
    As vezes a gente procura alguém que tenha os mesmos gostos que o nosso. O diferente pode ser bem interessante.

    Lindo!
    http://minhaformadeexpressao.blogspot.com.br/

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