13.5.14

Nossas tardes

"A qualquer tempo,
sempre minha,
sempre nosso." (Beethoven)

Eu sempre te achei tão bonito. Mesmo nos dias de mal humor, mesmo nos momentos em que seus olhos pareciam vazios, olhando pra um horizonte que parece tão distante, tão distraído que não percebia a maneira estática em que eu fitava você, procurando decorar cada traço, tique, cicatriz que fazem parte de quem você é. A cena era tão estonteante que eu não queria interromper - eu guardaria aquela cena na minha memória pra sempre.

Peguei minha câmera fotográfica e depois de uns tantos cliques, você notou a minha intromissão no seu momento e me olhou, laçando aquele sorriso que me despeçada, me deixa vulnerável a qualquer vontade sua, que me convence das maiores loucuras. Aquela era uma das várias tardes que passávamos na minha casa, vendo TV, aninhados no lençol da minha cama. Ainda que parece clichê, o momento era único em seus detalhes.

Me juntei ao seu olhar na varanda, olhei a movimentação na rua e, enquanto isso, senti seus braços envolvendo a minha cintura. Os copos de vinho em cima do centro da sala tinha feito uma bolha de água no vidro. O dia era frio, mas a sala estava abafada. O sofá desarrumado, que se falasse, gritaria para o mundo todas as nossas brincadeiras, beijos, brigas de cinco minutos e sacanagens. Mas, ele havia se tornado um aliado nas tardes em que meus pais não estavam em casa.

Eu ficava deitada no sofá, você fazendo carinho nas minhas pernas. Sabia o quanto eu gostava e o quanto ansiava por aquilo. Dividimos salgadinho de queijo, de vez em quando e, fizemos guerra de comida com eles, correndo pra arrumar tudo antes que meus pais sonhassem com a bagunça que tínhamos feito. Nada fora do comum, eu sei, mas amava aqueles dias mais do que qualquer saída para o cinema, ou shopping. Éramos só nós dois e quem nós dois éramos.

Até que meus país chegam e eu, como sempre, faço birra pra você não ir embora. Você, como sempre, consegue me convencer a te deixar ir. Me dava, como em todo final de tarde, o melhor beijo do dia. Aos olhos alheios, aquilo não tinha importância, mas pra mim, tinha demais. Era o nosso momento mais do que qualquer outro. O tempo parava pra gente e era nosso, só nosso. Percebia ainda mais o quanto te amava. E poderia amar pra sempre.

3 comentários:

  1. Nossa Amanda, estou apaixonada pelo seu texto.
    É um texto tão simples e cotidiano, mas que - imagino - a maioria pode se relacionar por ser tão verdadeiro.
    Beijo, e parabéns pelo talento.
    C,

    www.caixa-a-a.com

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  2. O texto está tão, mas tão bonito! Nota-se a verdade que vem do coração

    Muito obrigada *.* a par da escrita sempre foi uma das minhas paixões. Tenho uma máquina digital, mas sempre quis comprar a Canon 600D e tirar um curso de fotografia, porque também não sou muito entendida (vou-me safando). Às vezes há pequenos truques que não conhecemos e que fazem toda a diferença quer para tirarmos fotografias fantásticas quer para preservar a nossa máquina.
    Tenho a certeza que vais tirar fotografias mais bonitas que as minhas :)

    Obrigada por comentares, és sempre bem vinda ao meu blog*

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  3. Que lindo, são tardes como essas que fazem os sentimentos se eternizarem.

    www.iasmincruz.com

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