7.10.13

Pra ser livre

Toda aquela rotina era extremamente tediosa. Ela odiava aquelas mesmas conversas com as pessoas iguais e repetidos assuntos nos lugares que sempre costumava ir. Aquele clichê insuportável de que a regra era que tudo deveria ser daquele jeito e não poderia acontecer por outra expectativa. Todo o julgamento cansativo que as pessoas insistiam em fazer sobre ela e sobre as suas semelhantes, sem nem ao menos olhar-se pelo avesso e saber-se de suas falhas. Preconceitos todo mundo tem, é fato. Mas, na visão dela, só alimenta quem quer. Ela lutou contra isso a vida inteira e continuará lutando enquanto vida houver. É apenas uma atitude entre sete bilhões de almas vagantes e solitárias no mundo, mas ela acredita que a semente tem que ser plantada em algum coração. Que seja o dela.

Tantas possibilidades de ver o mundo real. Por que vê-lo de uma maneira tão limitada? Tantos jeitos de imaginar um mundo que pode ser ainda melhor. Por que não tentar mudar o seu mundo, ao menos? Por que se contentar com a mesmice da ignorância, do egoísmo? Sim, ela é humana e tão cheia de si como os outros, mas se força a acreditar que humildade é sentimento necessário para um viver melhor.

Se assim, por que se acomodar a ser apenas aquilo para que o destino nos configurou? Seja lá o que o destino reserva, entre as brechas da vida, as escolhas nos dão a possibilidade de um novo ângulo a ser observado. Se desprender de certos costumes - maus costumes - para conseguir ver o horizonte mais amplamente. Ela sabia que muitos desses maus vícios estavam encrostados na sua personalidade, mas ela nunca desistiu. Nunca desistiu de ser mais humana. Nunca desistiu de ser mais ela. Nunca desistiu.
     
E seja lá onde isso a leve, ela segue. Segue com o coração de quem, num mundo tão cheio de mazelas, tenta manter-se pura. Pura, não ingênua. Perceber o melhor nas pessoas e saber que errar é necessário para ser melhor. Mesmo magoando outros e se magoando. Mesmo dando murro em ponta de faca. O coração é músculo que age de acordo com o que há de mais profundo dentro do peito, genuíno. O mundo que ela quer pra ela, é assim: coração ditando caminhos, se expondo sem medo de ser magoado. Pra que tanta racionalidade, afinal? Talvez, ela não seja tão forte pra chegar a viver nesse mundo no qual o amor é disseminado sem pudor. Aliás, isso ainda é um tabu nos dias de hoje, sabia? Quem carrega a grandeza desse sentimento e tenta espalhá-lo por aí sofre muito, é bombardeado com racionalidades tão ilógicas, mas que se tornam lógicas na cabeça daqueles que não veem a realidade através dos olhos do amor.
     
O mundo precisa de tudo isso, só que por enquanto, só ela notou. Não importa, desde que alguém seja sensível o suficiente para resgatar o que já teve importância e se perdeu. Ela não ligava mais para todos aqueles julgamentos superficiais de quem não conhecia e não conhece o seu coração. Pois, apenas sabendo das intenções de um coração é possível conhecer alguém verdadeiramente. O mundo precisa ser livre, e ela sabia disso. E buscava isso, se aproximava disso. E dela mesma. Sabia que por essa estrada, estava ficando mais perto do seu céu particular, se distanciava das grandes feitas pelas outras pessoas. Falta pouco pra ela ser livre. Pra libertar, nem tanto.

4 comentários:

  1. Ah, você nem imagina o quanto eu sonho com essa liberdade, Amanda! É tudo o que preciso: " O mundo que ela quer pra ela, é assim: coração ditando caminhos, se expondo sem medo de ser magoado."
    Palavras incríveis, como nunca, linda..
    Beijos*:
    http://leontynasantos.blogspot.com/

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  2. Senti profundamente seu texto... É tão incrível e indescritivelmente magnifica a forma com que você escreve, que sempre acabo me surpreendendo a cada novo texto que leio!

    Beijos, INconvencional!

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