1.7.19

Eu sou caminho


Quando eu coloco os patins nos pés eu sou liberdade.

Fone de ouvido nos pops preferidos e a atitude mais instintiva, a sobrevivência. Por horas eu sou só isso. Os carros, os desvios, as paisagens. Tudo passa por mim e eu passo por tudo. Sou presença, na forma mais autêntica que conheço. E assim me vejo inteira, entre erros e acertos. É nessa hora que consigo acolher o que é meu, ainda que não entenda por completo. O que se mistura e se funde sem perder a essência. Traz o sentido.

Foi na instabilidade que eu cresci e me reencontrei. E nenhuma metáfora se encaixa tão bem com o meu momento quanto esse companheiro de oito rodas. Eu tive que despregar do chão, cortar raízes e me sentir desprotegida pra conseguir respirar. Eu tive que perder o medo cair, de me readaptar, de levantar de novo pra seguir o asfalto. Pra seguir mina trilha. Eu sempre fui mais ar do que terra e meu mapa astral tá aí pra provar. Perdi minhas asas por um tempo. Prendi, podei, fiquei na dor. E precisava ficar - já não preciso.

Me vejo mais perto de mim a cada fase. Cada curva, cada ladeira, viaduto, freio, piso áspero. A euforia de um recomeço se despede e eu me aproximo do solo mais leve, mais sóbria. Já não existe a mesma inocência e eu sou grata por isso, mas ainda habita em mim certa pureza que, embora eu julgue, às vezes, é a minha prosperidade. Eu aprendo todo dia um pouco com o eu que descobri admirar. É o que me liberta, é a minha força.

É por esse instrumento que sou firme e fluxo, bamboleando entre os limites e os equilíbrios, nem oito nem oitenta, nem presa à deriva. É na fluidez que posso ser minha melhor versão. É a escola da minha voz e expressão, identidade, ego e vulnerabilidade. Me sinto à vontade pra dizer quem eu sou ao mundo, sem vergonha, meus gostos, minhas incertezas e esperanças. Meu termômetro de mudança. O tanto que eu ressignifiquei, transformei. Agora posso florescer de maneira consciente. Sem romantismos.

Eu sinto amor e orgulho intenso, imenso, por todo o meu processo. Já não sinto aquela vontade de olhar constantemente pra trás, de me abraçar com a covardia. Mas não viro as costas. O que vier do passado, eu tô pronta pra enfrentar sem tanto receio. Com muito mais honestidade. Esse é o compromisso que firmei comigo.

Entendi que
eu sou caminho.
Não fixo, não fico; eu só passo.
Levo um tanto e deixo um outro tanto
e sigo na dança das rotas da autodescoberta
- da estrada eu só quero as sensações
preciosas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário