13.4.19

A porta do meu guarda-roupa caiu


A porta do meu guarda-roupa caiu
Começou a emperrar, de repente não tinha mais como olhar o que tinha dentro sem desencaixa-lá dos trilhos
Eu segurei o peso e tirei
A bagunça das roupas dentro tá exposta pra eu poder ver
Os cabides, calças e shorts jeans, blusa e camisas, calcinhas e pijamas
Tudo no emaranhado que eu consigo entender
Às vezes coloco tudo fora de uma vez, às vezes enfio tudo dentro

O lugar onde estão os meus itens mais íntimos
que me vestem

Agora bate luz
E eu posso ver o que eu quero e o que não, as roupas que eu preciso me desfazer 

Pela primeira vez eu não tenho vergonha da desorganização 
Talvez por ter pedido a vergonha de mostrar a mim mesma
De receber o julgamento do que os outros acham do que tem por dentro
Eles não sabem, eles nunca saberão 
E eu não preciso de permissão pra ser quem eu sou
Nem preciso da dor como companheira para atestar a minha história
Eu sou muito mais do que isso
As minhas cicatrizes não definem quem eu sou
Assim como também não os triunfos

Eu não quero ser heroína, nem santa, nem a vilã do conto de alguém 

Eu sou quem vive aquilo que vem no momento
Sem o rótulo do olhar alheio ou do meu mesmo
Eu vou ser fiel àquilo que minh’alma vibrar
E libertar toda a ancestralidade que eu carrego
O peso, o legado que não será mais nosso. Eu assumo essa liberação 

Das muitas mulheres que me compõem

Já não existe bicho-papão dentro do meu armário
Está tudo exposto, cartas na mesa
Para que eu possa separar
O que é meu, o que sou eu
O que é da minha história e o que me deram
O que não me importa e o que me estrutura, a minha flexibilidade

A arrumação começou.
A intuição e o feminino são os meus guias.
Eu to pronta pra começar a faxina.

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