19.12.16

À deriva de mim

Já faz algum tempo que esse texto pede pra ser escrito, mas é difícil pôr em palavras a confusão que se passa nos meus pensamentos. Tanta coisa mudou de um tempo pra cá e, ao mesmo tempo, eu sinto como se tivesse estancado no instante que é agora. Parece que faz anos que estou presa no mesmo segundo. Será que alguém entende o que eu tento dizer?

A verdade é que muita coisa mudou dentro de mim, de um tempo pra cá. E mesmo assim eu me esforço pra acreditar que eu não sou o meu passado. Eu já não sou tudo o que eu passei, tudo o que eu sofri, um pedaço das pessoas com as quais me relacionei. Mas ainda assim, sinto que cada uma dessas lembranças influem sobre quem eu tento me tornar, por mais que eu queira deixá-las pra trás.


Dia desses eu sonhei ter apenas um dia de vida e, ao descobrir isso, minha primeira providência era resolver os sentimentos que ficaram pendentes, as conversas que nuncas aconteceram fora da minha mente, dores mal resolvidas. Esse é um assunto que minha cabeça tem me forçado a lembrar nos últimos tempos com muita intensidade, ainda que eu queira encobrir essas memórias de névoa até que não seja mais possível enxergá-las.

Eu não quero nada do que foi de volta. Eu só quero olhar pra frente e me orgulhar de quem estou me tornando sem tantas mágoas. Sei que eu tenho comigo tudo o que preciso. Só preciso descobrir como resolver essas questões comigo mesma. A dor também faz a gente crescer, talvez até mais que o amor e as coisas boas que ele nos traz. Afinal, sou quem me torno a partir de tudo o que já vivenciei - ainda que isso não me defina.

Da vida também fazem parte as pendências. E, do orgulho e das mágoas que tenho, não vou atrás de mudar essa tradição, apenas respeito. Busco em mim os preenchimentos das coisas mal acabadas, das coisas que não me bastaram, e assim vou ficando mais forte em certos aspectos. Eu me resolvo - tenho que. A vida anda tão estranha, nunca me senti tão eu como nos últimos tempos, aos passos que nunca me vi tão perdida e confusa comigo mesma. Tudo parece estar onde devia, menos eu mesma.

Mas, talvez, viver seja isso mesmo. Nunca ter certeza do que se é ou não contentar-se com isso. Achar que ninguém te entende e que você não entende todo mundo. Tem dia que eu me perco e me acho na mesma confusão. Quem sou eu? Eu não sei. Não sou meu passado, não sou o que já me aconteceu. Às vezes não sou o que teve continuidade e nem o que mudou em constância. E quando penso saber, já perdi novamente o fio da meada e me encontro à deriva de mim.

6 comentários:

  1. O nosso passado será sempre uma parte vincada em nós, mas, como diz uma frase que li há uns tempos «passado é lugar de referência e não de residência»

    ResponderExcluir
  2. - Você não é a única.
    Quantas transformações aconteceram...Ainda não olhei pra trás, mas sei que não me reconheço.
    Acredito que isso seja bom.

    ResponderExcluir
  3. Passamos por tantas mudanças, que ás vezes é difícil nos reconhecer, né? Bom...essa é a vida. Realmente o melhor a fazer é nao olhar para trás.
    Beijos,
    Monólogo de Julieta

    ResponderExcluir
  4. Te entendo perfeitamente, aliás, somente quem sente oque sentimos pode entender. Já passei por isso, e volta e meia me pego assim. É uma das coisas com as quais terei de aceitar, e conviver. A grande diferença é que hoje isso dura pouco tempo, mas vai deixando comigo mais uma experiência, mais um esclarecimento sobre a minha forma de ser, agir e principalmente existir. ABC fica com Deus.

    ResponderExcluir