29.12.14

Amor em conta gotas

Eu sempre fui muito teimosa. Só Deus sabe o quanto eu posso bater o pé e querer algo a todo custo, cismar que as coisas têm de acontecer na hora que eu quero e do meu jeito. E sou assim em todos os âmbitos da minha vida: insistente com amizades, com vontades, e com amores também, é claro. Não sei até onde isso me faz bem e qual o ponto em que começa a me destruir, mas nunca carreguei comigo o peso daquela sensação de "...e se tivesse sido?".

E nos meus poucos anos de vida, eu já aprendi um tanto de coisa. Continuo relutante e birrenta, mas mudei em vários outros aspectos. Posso ser extremamente resistente a algumas dores, ou bastante frágil àquelas outras. Ainda não sei tudo sobre quem eu sou, mas aprendi o que eu não quero e não posso aceitar, aquilo que não faz parte de mim. E até me surpreendi em descobrir que posso me entender ainda mais do que eu pensei que poderia, um dia.

Foi essa a sensação que eu tive quando a gente conversou ontem à noite. Que eu não podia mais continuar assim, mesmo podendo. Entende? Eu poderia deixar sangrar um pouco mais e manter o sorriso de quem acabou de sair de um comercial de margarina. Eu poderia ter te acolhido e segurado as pontas se você estivesse com medo, mesmo que isso me inundasse por dentro. Eu faria isso por você, eu conseguiria aguentar, eu seria resistente, birrenta, cismada - e mais a meia dúzias de palavras que tem no dicionário como sinônimo de teimosia. Mas, desculpa, a tua metade é uma coisa com a qual não posso.

Ter uma saudade sempre acompanhada de um compromisso. Ganhar um beijo que sempre precedia o afastamento simbólico. Ser um abraço sempre guiado pela minha vontade de não soltar. A minha vontade de ficar, a tua de não criar raiz. Eu poderia lidar com quase tudo, com isso, não. E eu chorei por isso várias vezes essa semana. Ontem, chorei também, ainda que pouco. Solucei e calei. Pranteei as tuas metades restadas em mim. Um choro rápido, quase que limitado, medido, com  hora certa pra findar. Assim como a gente.

Por muitas vezes me vi ficar por metades alheias, ou até menos que isso. Um terço, um quarto, dois oitavos... às vezes, por nada. Mas, acho que de tanto me desmanchar e me recompor, eu tenha aprendido alguma coisa, afinal. E que as minhas partes que ficaram pelo caminho que trilhei estavam mesmo sobrando nesse quebra cabeça que eu sou. Agora, tudo parece se encaixar, de alguma forma.

Sinto muito, mas dessa vez eu não posso mesmo ficar. Por mim, pelo que eu sinto. Não sei gostar, nem beijar, nem abraçar, nem mostrar afeto em partes, medindo doses. Não quero um amor em conta gotas. Não aceito remédio, nem porção, nem controle. Quero overdose, delírio, embriaguez! A verdade é que eu sinto é muito bonito, muito forte, muito inteiro pra eu te dar só metade. Pra eu te oferecer o mar e você só molhar os pés. Pra te mostrar o céu e você querer só uma estrela. Não posso aceitar o meio gostar de alguém quando me entrego de corpo, alma, carne, defeitos, virtudes, dores, alegrias - e por amor.

Um comentário:

  1. Às vezes é necessário partir

    r: Muito obrigada, minha querida! Não saio de casa sem levar máquina fotográfica, já é um hábito, assim posso sempre aproveitar a oportunidade de fotografar algo que me chame à atenção :)

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