18.1.14

(Você na minha) rotina


A chuva corre pelo vidro da janela e eu me esforço pra não sorrir da próxima vez que lembrar deu nome. Tarde demais, já mostrei todos os dentes no vestígio da tua lembrança. Uma colher de brigadeiro. O dia está frio e cinza, mas aqui dentro, de alguma forma, eu me sinto aquecida. Acho que pela primeira vez, a mundo de água que inunda tudo lá fora não reflete o mundo ensolarado por dentro, ainda que igualmente inundado, mas de uma água que não traz dor, choro ou angústia. Traz paz, me cura. Respiro devagar.

Entre as viagens mentais que faço no instante que paro de prestar atenção no filme que estou assistindo pela sétima vez, eu poderia estar me perguntando o que está acontecendo comigo, mas não estou. Eu poderia estar imaginando em como pude deixar a história se desenrolar a tal ponto, mas não estou. Talvez, eu devesse até e estar com medo, mas - pasmo, não estou. Tudo o que sinto é um estado de êxtase constante, uma injeção de deslumbramento que não me deixa, um encanto que derruba todas as minhas possíveis barreiras. 

Debruçada sobre  a janela, me pego fitando os carros passando na rua e imaginando o que você estaria fazendo agora, se estaria tomando banho ou apenas jogado no sofá, assistindo algum desses programas idiotas que passam na televisão. Ok, é mentira. Mentira. Arrumo o cabelo como quem quer pular o pensamento. Penso se você também faz cara de bobo enquanto ri achando estúpida a ideia de eu também estar pensando em você ou se minha imagem te vem a cabeça quando se aquece com o cobertor, ao lado do seu cachorro.

Tá frio lá fora e eu sinto frio... por fora. Meus pés e dedos estão congelando, mas a possibilidade me você me ligar me mantem aquecida. Mas a possibilidade, a vontade de te ver me esquenta. Tomo um gole d'água. Posso desenhar e redesenhar mentalmente tudo o que eu imaginei e quis pra gente nesses dias. Eu com uma camisa velha sua, que me serve como vestido, aquele seu sorriso que só você tem. Poderia imaginar isso por dias a fio sem o menor sinal de cansaço. Mais uma colher de brigadeiro.

Porque cansaço maior seria não ter teus olhos pra descansar. E assim, a rotina continua. Me agarro com o edredom. Pela tarde inteira, a chuva segue. Cai, molha, inunda, esfria. Pela tarde a fora, eu sonho. Sorrio, lembro, carinho, saudade. Na minha lembrança, você fez morada. Beijou, ficou, mostrou, marcou. E em alguma constelação, ficou determinado. Eu, você, juntos. Nós. Duas colheres de felicidade.

5 comentários:

  1. Cara seus textos são tão lindos, que me deixa sem palavras na grande maioria das vezes que eu os leio. Só acho que o que eu, e todo mundo que ama quer é "eu, você, juntos... NÓS! Um edredom, duas colheres de felicidade e uma vida inteira pela frente"
    http://www.diarioruivo.com/

    ResponderExcluir
  2. Oi Amanda
    Quando uma pessoa marca muito nossa vida, ela não vai embora quando não a temos mais por perto, ela permanece no fundo dos nossos pensamentos, fazendo parte da nossa vida e da nossa rotina, principalmente nesses dias de chuva e solidão. A distância faz a lembrança ficar mais forte, não há fórmula mágica para conter isso, só a busca por novas lembranças, novos beijos e uma nova morada.
    Até mais

    ResponderExcluir
  3. Que lindo como sempre, e sempre queremos tá ao lado de quem amamos.

    www.iasmincruz.com

    ResponderExcluir
  4. "Duas colheres de felicidade"! Até parece que alguém por aqui andou lendo meus dias rs É bem assim que me sinto.. Sabe, como diz Mário Quintana, "Tão bom morrer de amor! E continuar vivendo...". Essas risadas vindas de pensamentos, quase sem querer..
    Belíssimo, Amanda!
    Beijos*:
    http://leontynasantos.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Ando assim, a tempestade de fora não me atinge por dentro, por dentro o "sol" esta sempre irradiando luz e paz.
    Ah o amor, esse sentimento que nos deixam assim, digamos que bobinhas, porém mais leves e felizes.

    Belo texto!

    ResponderExcluir