Aquele com quem dará certo

Se existe um consenso, mesmo entre as pessoas com pensamentos completamente diferentes, é fica é bem mais fácil levar a vida quando se tem alguém que divida algo com a gente, seja esse algo o lado esquerdo da cama, o copo de café ou as inseguranças de uma vida cheia de cicatrizes. A verdade é que tendo alguém com quem dividir as cicatrizes se tornam menos profundas, os fardos se fazem menos pesados. Mas também é verdade que até encontrarmos essa alguém que nos dá conforto emocional, a gente se engana várias vezes.

Talvez seja pela ânsia de compartilhar, de tirar o peso da costas, que a gente vive nessa procura eterna e desesperada. É nessa vontade infinita de dizer "esse é o certo" que vamos trocando os errados pelos incertos. E quando digo "errado", não estou falando de destino, alma gêmea ou simpatias caseiras. Longe disso. Essas coisas de intimidade emocional são complicadas, sabe? Elas envolvem muitas variantes - algumas até, ainda são incógnitas pra mim. Talvez ele não seja o cara errado, só porque deu errado. Ou talvez ele seja mesmo. Talvez o tempo foi errado, a intensidade, as emoções. Talvez ele seja o cara errado que deu certo. Como saber? Acredite, eu também não sei.

     
E todos esses sentimentos e fatores que podem influenciar são de extrema fragilidade. Estamos tão expostos, tão em carne-viva que qualquer cisco nos arde a pele. Tudo dói, marca, sangra. Mas o lado bom é que sobrevivemos e, quer queira quer não, nos tornamos ainda mais decididos a encontrar essa pessoa que, por favor, tem que estar em algum canto do planeta! A busca continua, embora não tão desesperada, não tão abrangente, muito mais cautelosa. Ninguém quer sentir doer de novo.

     
De repente, tchan. A gente encontra aquela pessoa. Na fila do banco, no banco da praça, na roda de amigos, em uma festa qualquer. Ela não sabe que é a sua pessoa e nem você sabe ainda que é a dela, mas alguma coisa aconteceu ali. Talvez você notou, talvez não. E, talvez, a partir daquele dia, vocês vão se conhecer, se relacionar e lutar todos os dias pra que dê certo. Claro que ainda existe o medo da exposição, mas o sentimento de entrega é bem maior. Parece que a agonia cessa, levanta a bandeira branca. Talvez seja mesmo ele. Talvez? Sim! Não tem como ter certeza - mas acho que tentar fazer funcionar todos os dias, um dia de cada vez, é um bom começo.

     
Há quem acredite que seja destino, pré-destinação. Eu prefiro acreditar em vontade, em escolhas, mas não posso julgar quem crê em outra versão da mesma história. Afinal, como ter uma verdade absoluta quando se trata de sentimentos? Como separar errado e certo com uma linha bem delimitada? Eu não tenho essa resposta e acredito que nunca terei. 

   
Já passei por muitos momentos também. Pensei que ia dar certo e não deu. Quis que desse errado e deu certo. Aprendi e continuo aprendendo. Ninguém é mestre quando se fala em amor. Mas, como qualquer outra pessoa do mundo, uma coisa é certa: espero e busco por esse alguém com quem dividirei mais do que segredos, angústias e beijos. Que seja o certo que quer dar certo, ou o errado que quer dar certo, tanto faz. O essencial mesmo é querer dar certo.