Em caminho reto

     
Não acho que a vida dê voltas, mas que ela caminhe. Nem sempre em linha reta, às vezes tem uma ladeira ingrime ou uma planície, mas ao meu ver o caminho que a vida traça está mais para uma reta do que para uma circunferência. Dizer que "a vida dá voltas" é o mesmo que dizer que por mais que eu "ande", vou parar no mesmo lugar, porque embora dar um giro de 360 graus não deixe de ser uma movimentação, quando eu parar, vou estar no mesmo lugar de onde saí, e acredito que a vida por mais que as situações se misturem e se transpassem, nunca estou no mesmo lugar, nunca me encontro na mesma situação. 

Assim, um momento triste viraria reprise, a cada "volta" que a vida dá e me levaria junto. Mas pelo contrário, quando me sinto no fundo do poço e a tristeza é minha confidente mais íntima, algo acontece. Não algo extraordinário, mas algo cotidiano que me faz de alguma forma querer sair dessa solidão profunda. Um simples "acordar feliz sem motivo aparente" ou "a lua está tão linda hoje" e Bum!, meu dia se transforma em um dia cheio de flores e passarinhos imaginários, e até as coisas que não são tão boas assim se tornam toleráveis. Queria entender o que é essa reviravolta que acontece dentro do mundo e dentro do meu mundo, mas mesmo se entender, sinto. 

E sentindo, aceito, afinal, não busco explicações lógicas para as coisas boas, só busco senti-las. Que a vida continue me levando por suas ladeiras e seus becos, por suas estradas sem calçamento e por suas avenidas. Em sua linha, nem sempre óbvia e previsível, mas que ela não me prenda nas voltas que ela dá por aí.