2.1.18

De onde vem a minha força



Eu endureci, criei casca
pra que as agruras do mundo não levassem embora a alma empática que eu alimento todos os dias. As coisas ruins insistem em me fazer crer que nada vale a pena, que o mundo é dos preconceituosos e de quem tem o coração inflamado de egoismo. Eu nunca acreditei nessa falácia

Eu endureci, criei casca
mas eu sou teimosa e
não temo
porque a minha força vem
daquelas que são se calaram diante do silêncio ensurdecedor, da aflição
que é ser mulher e ser subjugada nesta sociedade enferma.
Resisto por esse companheirismo transformador, por saber que em algum lugar, alguém sente o mesmo, na alegria e na tristeza
e no alívio de ser outra mulher atrás da gente numa rua deserta e escura, não um homem
eu me sinto mais forte para combater
porque não quero que nenhuma irmã tenha que passar por algumas destruições que já passei
e darei o que for preciso para que ela não tenha que conhecer os escombros que ficam
depois que nosso espírito se despedaça

Eu endureci, criei casca
foi o jeito que eu arrumei de não vender a minha essência pelo preço baixo de julgar, que é mais cômodo do que acolher e compreender. Eu nunca quis o caminho mais fácil, se este não me dá orgulho das minhas escolhas

Eu endurei, criei casca
mas a parte de dentro é sensível,
sou ostra.
Às vezes, passam alguns grãos de areia
que doem, incomodam
mas ainda bem que tudo o que fere também pode ser aprendizado
e eu transformo essa dor em pérola.

Nenhum comentário:

Postar um comentário