8.8.19

Sinestesia


Eu desejo que você possa, um dia,
se ver como eu te vejo
intenso, potente, possível
Capaz de ser a faísca que gera o fogo incandescente
Capaz de ser água que banha os olhos tristes e fundos
de conquistar o mundo sem tanto alarde
Assim como se apoderou do meu

30.7.19

De outro lugar


Você diz que sou hábil com as palavras,
mas ainda não encontrei as que conseguiriam descrever com precisão
o alvoroço que se passa dentro quando reencontro
a tua boca
sorrindo, falando, beijando o pé do ouvido frio, a ponta do meu nariz
tanta suavidade, tão encaixados
Os pensamentos entram em curto circuito, as frases não fazem sentido e nem se inteiram
Talvez só os olhos possam traduzir
as ondas quentes que se alastram pelo meu corpo, que dilatam as minhas pupilas
quanto você me toca

16.6.19

Br(ok)en and stuff


Hoje é um daqueles dias de chuva em que eu daria meu reino pra não estar dentro de casa. É um dia que te força a entrar na concha, mergulhar no escuro das sombras e dar de cara com aquilo que a gente vem se mantendo ocupada pra não ter que lidar. Eu sempre soube que esse dia chegaria, hora ou outra. E é saudável que chegue. Não dá pra viver sorrindo o tempo inteiro, eu mesma falei pra mim ontem. É como se a chuva trouxesse sobriedade, acalmasse a euforia e liberasse certa angústia. Pelo menos é assim que eu me sinto agora.

12.6.19

A minha aposta


Não teria como contabilizar, ainda que quisesse, a quantidade de vezes que eu ensaiei esse discurso na minha cabeça. Eu vou, volto e refaço as falas. Penso no que pode ser mal interpretado, entendido como pressão ou como descaso. Desculpa a minha falta de coragem pra assumir o que eu suponho que você já sabe. Talvez nem saiba e eu quero acreditar que sim só pra não me sentir tão culpada pelo meu medo. E eu vou fazer rodeios pra falar, engasgar, ponderar mil vezes se devo. Vou parecer uma menina de 15 anos com seu amor platônico da escola. Mas prometo que chego lá.

13.4.19

A porta do meu guarda-roupa caiu


A porta do meu guarda-roupa caiu
Começou a emperrar, de repente não tinha mais como olhar o que tinha dentro sem desencaixa-lá dos trilhos
Eu segurei o peso e tirei
A bagunça das roupas dentro tá exposta pra eu poder ver
Os cabides, calças e shorts jeans, blusa e camisas, calcinhas e pijamas
Tudo no emaranhado que eu consigo entender
Às vezes coloco tudo fora de uma vez, às vezes enfio tudo dentro

O lugar onde estão os meus itens mais íntimos
que me vestem

31.3.19

In chaos


Tudo saiu do mesmo controle e mesmo assim tá tudo bem

Não lavei o cabelo, as olheiras tão fundas
As conversas do WhatsApp se acumulam, assim como os episódios das séries que acompanho
O trabalho de conclusão de pós está por começar há meses
Os empregos tomam boa tarde da minha energia
Hoje é sexta-feira e eu tô estafada, mas amanhã ainda tem expediente
Não consigo parar pra meditar ou escrever, nem ao menos refletir sobre as questões
A rotina me engoliu, mastigou, cuspiu e disse que não me queria mais

13.3.19

Meio do teu nome


Hoje eu chamei outra pessoa pela metade do teu nome
Eu chamei e me veio à memória
De todas as metades que a gente foi
da nossa incapacidade de ser além do medíocre
E até nessa hora fui meio tristeza, meio alívio
Meia culpa e meia saudade