16.2.19

O custo infinito daquilo que não custa nada


"(...) Mas não custa nada".

Essa frase acompanhou minha trajetória em família e ainda acompanha.
Arriscaria dizer que é uma herança de muitas gerações
Um fardo que me pesa os ombros

Tantas foram as vezes que eu aspirei esses dizeres
e consenti em carregar questões que não eram minhas
e de ir contra o que era
Abrir mão de mim e acolher outrem, alguém, ninguém,
nunca Amanda.

Infelizmente demorei  tempo demais pra entender que cada vez que eu cedia,
eu aumentava a minha dívida e que uma hora a conta ia chegar
De empréstimo em empréstimo eu fui me endividando
Me afogando, me enchendo e me esvaziando

Dava uma parte que era minha e que não poderia recuperar
me anulando, me culpando, me cobrando
Sendo que o ter que de nada vale. A expectativa alheia tem sempre um preço muito alto
porque chega uma hora que a fonte esgota,
pareço que vou explodir se mais um sim sair da minha boca

Não não não não não não não não não não não e não
Não vale minha paz, meu espaço, minha individualidade, minha vontade

Eu vou falar por um tempo. Preciso recuperar o investimento perdido
olhar pra dentro, questionar o que eu sinto. Começar a encher a minha poupança
Resgatar o tanto dado que passou da conta
Equilibrar a cotação do dar e do receber
Ser digna.

Talvez eu liberte tantos outros
Talvez eu não seja entendida por tantos outros...
e nem penso que a culpa desaparece instantaneamente. Será minha companheira, ainda
Pode ser que isso continue sendo carregado por mais tempo nas costas de quem não aguenta
Tudo bem

Mas eu aceito algum peso, não todo
Rasgo a casca daquilo que não sou eu, mesmo que arda a pele
E a partir de hoje não permito que outrem, alguém, ninguém
diga como eu devo agir na minha autonomia.
Sempre Amanda.

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