Ela é parte de mim

Ela é a única que põe os pés sujos na minha cama sem eu xingá-la muito. Ela pode até correr para o banheiro para tomar banho antes de mim e eu aceito numa boa. Ela pega os meus biscoitos favoritos sem ao menos pedir a minha permissão e muda o canal da televisão quando eu tô vendo o concerto da minha banda preferida. A única que pode falar mal do menino que eu tô afim sem se preocupar com as consequências. Quem me chama de cachorra, de vadia e fala que o meu cabelo está ruim com a certeza de que estará viva no outro dia.

A gente vive numa relação de amor e ódio. Tem dia que a gente tá se amando muito, mas tem dia que só de escutar o seu nome, o meu estômago revira. É a primeira pessoa pra quem eu ligo quando pretendo fazer alguma loucura e a última que eu quero falar quando faço alguma mancada, porque sei que a bronca é certa. Por saber todos os meus podres, a danada é capaz de ameaçar dizer pra todo mundo sobre aquele menino feio que peguei em uma festa só para conseguir de mim o que ela quer.

     
Já trocamos tapas e arranhões e também trocamos cartões fofos de final de ano. Minha mãe já trata ela como filha, de tanto tempo que ela passa aqui em casa. Chega e abre a geladeira sem pedir licença. O seu colo é o melhor acolhedor de meus choros incontroláveis, principalmente quando são choros desencadeados por cafajestes. Mesmo discordando de mim, ela me apoia e quando tá certa, faz questão de passar na minha cara aquele "eu bem que te avisei". Ela sabe todos os meus segredos e mesmo ameaçando usá-los contra mim, se necessário for, eu sei que é o lugar mais seguro para descarregá-los.

     
Ela reclama quando choro pitangas, mas nunca me deixa carregar meus fardos sozinhas. Quando está de mal humor, não me poupa dos foras ou das ironias, mas pede desculpa quando vê que pegou pesado. Por vezes, ela tampa os ouvidos pra não escutar a minha mesma ladainha de sempre e ainda avisa que não aguenta mais ouvir a mesma história. Ela não é perfeita e é bem irritante. Sabe como me tirar do sério como ninguém.

     
A gente briga e nenhuma das duas dá o braço a torcer, mas daqui há cinco minutos, é como se nada tivesse acontecido. Ela consegue ser a pessoa mais chata e também a mais amável do mundo, quando quer. Aprendi a conviver com todos os seus defeitos e qualidades e talvez por isso que eu a suporte há tanto tempo. Aprendi a querer a sua presença sempre por perto. Ela é a irmã que o destino me permitiu escolher. Vulgo, a minha melhor amiga.