Eponine (Parte 6)

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        Acordei na minha cama, mais uma vez, morrendo de dor de cabeça. Era meio dia de sábado e o que me despertou foi o meu celular tocando loucamente: era a minha mãe, querendo saber se eu havia sobrevivido a noite da festa. Não atendi porque seria insuportável escutar a sua voz fina do celular, ainda mais com a cabeça explodindo de dor pela ressaca, mas enviei uma mensagem avisando que estava sã, salva e em casa. Saí da casa da Laura por volta das cinco horas da manhã, quando a bebida já não estava fazendo mais tanto efeito. Conversamos horrores e falamos super alto, até que o porteiro resolveu nos alertar de que os vizinhos estavam reclamando do barulho. O Giu, muito prestativo, veio me deixar em casa. Incrível como nós tínhamos nos aproximado depois que eu não estava mais com o Cris, e incrível também a maneira como eles tinham se afastado.

        Embora eu estivesse bastante enjoada, precisava comer alguma coisa para amenizar o efeito da bebida. Levantei da cama e me arrastei até a cozinha. Abri a geladeira e procurei queijo prato para pôr no pão, que eu comeria acompanhado de leite com achocolatado. Que silêncio estava a casa e que maravilhoso isso era. Minha mãe e meu padrasto sempre saiam no sábado pela manhã e só voltavam depois do almoço, porque iam se exercitar na academia e depois, almoçar. Comi o meu pão com queijo sem pensar em nada específico e ouvi a campainha cantando. Levantei da cadeira e segui em direção a porta.

- Giu?! O que você tá fazendo aqui? - Falei totalmente surpresa.

- Oi Nine, você tá ocupada? Eu estava passando aqui por perto e então... eu pensei... - Ele parecia nervoso.

- Não tô não. Pode entrar, fica à vontade. - Puxei ele pelo braço e encostei a porta - Eu tô comendo, você quer alguma coisa?

- Não obrigada, eu estou bem. - Ele sorriu. - Posso me sentar? 

- Hãn...claro, claro. Senta aqui - Puxei a cadeira da mesa da cozinha para perto da minha. Botei mais um pedaço de queijo em outro pão, e percebi que o Giu estava me olhando sem piscar. Me sentei.

- Nine, eu preciso de contar uma coisa. -Falou enquanto tamborilava os dedos sobre a mesa.

- Aconteceu alguma coisa, Giu? - Perguntei, receosa com a resposta que poderia receber.

        A reação dele foi tão inesperada que eu fiquei sem saber o que fazer. Vi o Giu se aproximar cada vez mais do meu rosto até sua boca encostar a minha. Fiquei completamente imóvel e, poucos segundos depois quando voltei a mim, não acreditava no que havia acabado de acontecer.

- Mas que merda é essa, Giu? - Falei alterada. Mal escutei a primeira vez que a campainha tocou, mas como ela tocou seguidamente, caminhei até a porta e abri agressivamente.

- Cris? Mas que palhaçada é essa aqui? Minha casa virou ponto de encontro? - Estava estressada.

- O quê? - Ele falou sem entender o que estava acontecendo, até que se esticou um pouco e viu o Giu andando pela sala, em direção a porta. - O que esse imbecil está fazendo aqui? Qual é, porque ele colou em você agora? - O Cris foi entrando na minha casa antes mesmo que eu desse permissão.

- Não é da sua conta, Cristiano. Aliás, quem não deveria estar aqui era você - O Giu falou e eu senti, pelo tom, que aquela conversa não acabaria bem.

- Será que você poderia dar o fora daqui e deixar eu e a Nine conversamos? - Falou Cris, em um tom bastante alto.

- Na verdade, eu gostaria que os dois dessem o fora daqui e me deixassem em paz - Falei segurando a porta, na intenção de que eles escutassem o meu pedido e saíssem da minha casa. Cara, eu tava com ressaca! Eles não podiam dar um tempo não?

- Chegou tarde demais, Cris. Sabe como é... - O Giu soltou um sorriso malicioso.

- Não vou acreditar mais nas suas mentiras! Pensei que você era meu amigo. Mas vamos resolver isso como homens. Aliás, se você for um!

        Não tive tempo de fazer muita coisa. Sim, Giuliano e Cristiano, ex melhores amigos estavam trocando murros e ponta-pés no meio da minha casa. Eu corria de um lado para o outro, mas não sabia como fazer os dois pararem. Sai correndo em direção à cozinha, onde ficava o telefone e liguei para a polícia. Falei bastante nervosa, mas entendi a atendente dizendo que mandaria uma viatura para o meu endereço. Alguma coisa estava acontecendo entre os dois e eu não sabia o que era. Como tinha acontecido tudo aquilo em tão pouco tempo? Que capítulo da minha própria história eu havia perdido? Não sei mais o que fazer!